ATIVIDADE COMPLEMENTAR DE HISTÓRIA - 1º ANO
ATIVIDADE COM O FILME LUTERO
Importante: para aqueles que fizeram a produção da história sobre as lendas medievais e precisam, portanto de quatro pontos, a tarefa é fazer a questão 1. Quanto aos que não fizeram a história , estes deverão fazer a atividade completa.
1- A pós assistir ao filme responda as questões abaixo:
a) Comente as passagens que tornam evidente que a Igreja passava por escândalos em que os membros do clero não se comportavam dentro do padrão moral defendido pela Igreja.
b) Explique as razões pelas quais os príncipes alemães foram chamados de protestantes e culminando assim em se denominar todas as igrejas reformadas a partir de Lutero como protestantes?
c) Leia o trecho acima e responda
“27ª Pregam a doutrina humana os que dizem que assim que a moeda tilintar na caixa, a alma voará para fora (do purgatório).
43ª Os Cristãos devem ser ensinados que aquele que dá ao pobre ou empresta ao necessitado faz uma melhor obra do que [faria] comprando indulgências.
82ª A saber: - "Por que o Papa não esvazia o purgatório, por causa do santo amor e da horrenda necessidade das almas que lá estão, se ele poderia redimir um número infinito de almas com o mui funesto dinheiro com o qual constrói uma Basílica? Não são as primeiras razões mais justas; e a última insignificante?"
Quais são as críticas contida no texto sobre as práticas comuns da Igreja Católica da época?
d) Segundo a doutrina luterana por que é permitida a abertura de tantas Igrejas protestantes ao contrário da Igreja Católica Apostólica Romana que até hoje permanece em unidade
2- Cite e comente os sinais que Deus deixa para que saibamos para qual destino fomos escolhidos e qual tipo de vida devemos ter para conseguirmos a salvação, segundo João Calvino.
3- Explique os motivos pelos quais o Rei da Inglaterra, Henrique VIII, rompeu com a Igreja Católica
4- Comente as vantagens econômicas que ocorreram para Inglaterra a partir do rompimento entre Henrique VIII e o Papa
OUTRA VISÃO SOBRE O TRABALHO
Na linguagem bíblica, a idéia de trabalho está relacionada à maldição divina, como castigo decorrente do pecado original, “Ganharás o teu pão com o suor do teu rosto” (Gênesis III, 19), também se relaciona com o pensamento de que aquele que não contribui com seu trabalho não tem direitos, uma vez que, “se alguém não quiser trabalhar não coma também.” (II Tessal, 3, 8-10). É por meio de um esforço doloroso que o homem sobrevive na natureza. Mesmo assim, o homem continua totalmente dependente de Deus, “pois sem ele todo esforço não dá nenhum resultado” (Sl. 127, 1). O trabalho
realizado neste espírito sempre é recompensado por Deus “que um dia dará ao homem o descanso por seus esforços” (Apc.14,13). Então, pela Bíblia, o trabalho pode significar o sofrimento, mas também a salvação.
O trabalho e sua valorização
Durante boa parte da História, o trabalho foi visto como atividade desvalorizada, considerado, pelos gregos antigos, como a expressão da miséria humana. Para Platão (428 - 347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.), o trabalho era aquilo que estava ligado à necessidade: de alimentar-se, de cobrir-se, entre outras. Dessa forma, a necessidade limita a liberdade do homem e, assim, tudo que se destinava ao produzir e comercializar, ficava a cargo dos escravos.
Para os romanos, que também era uma sociedade escravista, o trabalho era algo vil, oposto ao lazer e às atividades intelectuais.
Durante a Idade Média (séculos V a XV), seguiu-se o referencial religioso católico do trabalho como castigo, sofrimento e penitência do homem, ou seja, dos servos, já que o nobre não deveria trabalhar, pois a sociedade estava dividida em três ordens com funções bem definidas: aos nobres cabia guerrear, ao clero orar e aos servos trabalhar.
Somente na modernidade (séculos XV ao XVIII), com mudanças profundas pela qual a sociedade europeia passou com o revigoramento comercial e urbano, que o trabalho passou a ser valorizado. Neste período, o trabalho foi idealizado como um símbolo de liberdade do homem, de transformação da natureza, das coisas e da sociedade, assumindo os anseios da burguesia nascente.
A valorização do trabalho se deu, principalmente, com a difusão das idéias renascentistas e iluministas. No Renascimento (séculos XV ao XVI), o trabalho passa a ser visto como um estímulo para o desenvolvimento dos seres humanos, e como expressão da personalidade humana ao se tornar um criador por sua atividade. Assim, é por meio do trabalho que os seres humanos preenchem suas vidas e podem realizar qualquer coisa.
Mas, foi no Iluminismo, no século XVIII, que o trabalho foi exaltado ao lado da técnica, quando o capitalismo se consolidava e surgiam as primeiras fábricas. Com os estudos de economistas e filósofos, como John Locke (1632-1704), Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1779-1823), o trabalho passou a ser exaltado como fonte de toda a riqueza e valor sociais.
ATIVIDADE 1
Leia as frases de pensadores posteriores a Locke e Smith e discuta as semelhanças e diferenças sobre o conceito de trabalho apresentado até esse momento. Escreva suas conclusões e apresente-as para sala.
• “O trabalho positivo, isto é, nossa ação real e útil sobre o mundo exterior, constitui necessariamente a fonte inicial de toda riqueza material”. (Augusto Comte [1798-1857]: filósofo francês)
• “Produzindo seus meios de subsistência, os homens produzem indiretamente sua própria vida material”. (Karl Marx [1818-1883]: filosófo alemão)
• “E exatamente por meio do trabalho que o homem se torna livre, o trabalho domina a natureza: com o trabalho ele mostra que esta acima da natureza”. (KierKegaard [1813-1855]: filosofo dinamarquês)
ATIVIDADE 2
Leia os documentos 3 e 4. Depois, escreva uma narrativa histórica sobre como estes pensadores entendiam o trabalho considerando a sua importância para as sociedades em que viviam.
• Após análise dos documentos 3 e 4 e das frases presentes no debate, elabore uma definição de trabalho articulada com os contextos sócio-históricos de sua produção.
Documento 3
É o trabalho, portanto, que atribui a maior parte do valor à terra, sem o qual dificilmente valeria alguma coisa; e a ele que devemos a maior parte dos produtos úteis da terra, por tudo isso a palha, farelo e pão desse acre de trigo valem mais do que o produto de um acre de terra igualmente boa, mas abandonada, sendo o valor daquele o efeito do trabalho. Não e simplesmente o esforço do lavrador, a labuta do ceifador e do trilhador e o suor do padeiro que se tem de incluir no pão que comemos; o trabalho dos que amansaram os bois, extraíram e prepararam os ferros e as mos, derrubaram as árvores e prepararam a madeira empregada no arado, no moinho, no forno ou em outros utensílios quaisquer, que são em grande parte indispensáveis a esse trigo, desde que foi semente a plantar-se ate transformar-se em pão, terá de computar-se a conta do trabalho, e receber-se como efeito deste; a natureza e a terra
forneceram somente os materiais de menor valor em si. Seria estranho o “catálogo dos artigos que a indústria fornece e utiliza, com relação a cada pão” antes de nos chegar as mãos, se fosse possível acompanhá-los: ferro, madeira, couro, casca, tábuas, pedras, tijolos, carvão, cal, pano, tinturas, piche, alcatrão, mastros, cordas e todos os materiais que se empregam nos navios que transportam qualquer dos artigos usados pelos operários em qualquer parte do trabalho; contar todos eles seria impossível ou, pelos menos, demasiado trabalhoso. (LOCKE, Carta da tolerância [1689], 1983, p. 51).
Documento 4
O trabalho anual de cada nação constitui o fundo que originalmente lhe fornece todos os bens necessários e os confortos materiais que consome anualmente. O mencionado fundo consiste sempre na produção imediata do referido trabalho ou naquilo que com essa produção e comprado de outras nações. Conforme, portanto, essa produção ou o que com ele se compra, estiver em proporção maior ou menor em relação aos números dos que a consumirão, a nação será mais ou menos suprida de todos os bens necessários e os confortos de que tem necessidade.
Essa proporção deve em cada nação ser regulada ou determinada por duas circunstancias diferentes: primeiro, pela habilidade, destreza e bom senso com os quais seu trabalho for geralmente executado; em segundo lugar, pela proporção entre o número dos que executam trabalho útil e o dos que não executam tal trabalho. Qualquer que seja o solo, o clima ou a extensão do território de uma determinada nação, a abundancia ou a escassez do montante anual de bens de que disporá, nessa situação específica, dependera necessariamente das duas circunstâncias que acabamos de mencionar.
(SMITH, 1985 [1776], p. 35).
O QUE É TRABALHO?
Parece tarefa fácil definir o que significa o termo trabalho. Entretanto, quando nós iniciamos essa atividade, percebemos a complexidade do conceito, que pode ser visto sob vários prismas e adquirir significados diversos, desde o uso cotidiano, quando se fala “o trabalho da máquina escavadeira” ou “a mulher entrou em trabalho de parto,” até explicações filosóficas, que procuram entender as dimensões do trabalho para o homem e para a vida em sociedade.
A própria palavra trabalho não é algo que tenha uma definição clara. Em quase todas as línguas européias existem mais de uma definição, em grego tem uma denominação para esforço e outra para fabricação. Em latim existe a separação entre labore, a ação, e operare, que corresponde à obra. Em outras línguas existem pelo menos duas denominações ligadas à realização de um trabalho, por exemplo, em francês existe a diferença entre travaillere e ouvrer; trabajar e obrar em espanhol como no inglês labour e work.
Em nossa língua, a palavra trabalho originou-se do latim tripalium, que era um instrumento agrícola utilizado pelos romanos para bater o trigo, as espigas de milho ou o linho. Com o tempo, tripalium foi relacionado com instrumento de tortura, juntamente com o verbo Tripaliare, que significa torturar. Desta forma, em português, a palavra originou-se vinculada às idéias de padecimento, sofrimento, esforço, laborar e obrar.
Na Filosofia, o conceito de trabalho é visto como a expressão das forças espirituais ou corporais em atividade, tendo em vista um fim que deve ser alcançado. Mesmo que não se produza nada imediatamente visível (trabalho intelectual) como um resultado exteriormente perceptível, um produto ou uma mudança de estado (trabalho corporal), pode existir uma separação entre o trabalho intelectual e o braçal, e essas duas formas de trabalho encaixam-se nesta definição. Mas será que podemos separar trabalho intelectual e trabalho corporal? O pedreiro não utiliza inteligência e raciocínio para erguer uma parede de tijolos? O escritor não tem desgaste físico ao escrever um livro? Para pensadores, como Karl Marx (1818-1883), é por meio do trabalho que o homem modifica a natureza e o mundo para satisfazer as necessidades humanas (pessoais ou sociais) e assim transformar a natureza em objetos de cultura, ou seja, ao mesmo tempo em que a natureza é transformada, o mesmo ocorre com o homem. Saibamos que, para os filósofos que compartilham do pensamento de Marx, o que distingue o trabalho humano do dos animais é que naquele há consciência e intencionalidade, enquanto os animais trabalham por instinto, sem consciência. Outra característica do trabalho humano é que ele expressa a liberdade humana, visto que não podemos ser programáveis como um robô, podemos realizar as tarefas de formas variáveis e até nos realizarmos nelas.
Desta forma, na linguagem diária não parece haver diferenças quando utilizamos este termo ou conceito, é na linguagem científica que os significados tornam-se mais complexos.
Documento 1
Antes de tudo e um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma forca natural. Ele põe em movimento as forcas naturais pertencentes a sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza externa a ele, ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as potencias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forcas a seu próprio domínio.
Não se trata aqui das primeiras formas instintivas, animais, de trabalho.
O estado em que o trabalhador se apresenta no mercado como vendedor de sua própria força de trabalho deixou para o fundo dos tempos primitivos o estado em que o trabalho humano não se desfez ainda de sua primeira forma instintiva. Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes as do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas, o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha e que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém um resultado que já no inicio deste existiu na imaginação do trabalhador, e, portanto, idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural: realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem que subordinar sua vontade. E essa subordinação não e um acontecimento isolado. Além dos órgãos que trabalham, e exigida a vontade orientada a um fim, que se manifesta com atenção durante todo o tempo de trabalho, pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de sua execução, atrai o trabalhador, portanto, quanto menos ele aproveita, como jogo de suas próprias forcas físicas e espirituais. (MARX, 1985 [1867], pp. 149-150).
ATIVIDADE
1. Comente os aspectos do pensamento de Marx, presentes no documento 1, que contribuem para entendermos melhor o que e o trabalho. Quais as características do trabalho humano que este pensador destaca?
RELAÇÕES DE TRABALHO
RELAÇÕES DE TRABALHO:
A construção do trabalho assalariado
Etimologicamente a palavra salário vem de sal. Na antiguidade, como não havia moeda como instrumento de valoração e troca, usava-se a pitada de sal como expressão de valor. Será que sempre existiu salário para o trabalho? Trabalho sempre esteve relacionado com salário?
De artesãos independentes a tarefeiros assalariados
A partir dos séculos XII e XIII, com o progresso das cidades na Europa e o uso do dinheiro, os artesãos tiveram a opção de abandonar a agricultura e viver de seu ofício. O sapateiro, o padeiro, o fabricante de móveis, etc., foram para as cidades européias, dedicando-se aos negócios, não mais para satisfazer somente às suas necessidades como faziam antes, mas sim para atender à procura e abastecer um mercado pequeno e em construção.
Neste momento, a produção era de caráter familiar. Nela o artesão possuía os meios de produção (era o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalhava com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima até o acabamento final; ou seja, não havia divisão do trabalho ou especialização. Em algumas situações, o artesão tinha consigo um ajudante, porém não assalariado, que desenvolvia o mesmo trabalho pagando uma “taxa” pela utilização das ferramentas.
Com a expansão das cidades e a mudança de grande parte da população para os centros urbanos, aumentou o número de artesãos. Estes, que antes dominavam todas as técnicas de fabricação de um produto, passaram a ter mais ajudantes, os quais se tornavam aprendizes de um ofício, recebendo um pagamento por isso (em alimentos ou dinheiro), até poder obter sua própria oficina. Concluído o período de aprendizado, caso não tivesse condições de abrir sua própria oficina, o aprendiz podia tornar-se jornaleiro e continuar trabalhando para o mesmo mestre, recebendo um salário, ou tentar conseguir emprego em outra oficina. Nos séculos XII e XIII, a produção artesanal estava sob o controle das corporações de ofício, que eram associações econômicas que buscavam promover e proteger os interesses de uma determinada categoria profissional. Os trabalhadores passaram a agregar-se por especialidades nas corporações de ofício, que possuíam regulamentos quanto à hierarquia, à formação e ao treinamento de profissionais, às horas de trabalho, salários, preços a serem cobrados pelos próprios produtos, além de proteger os artesãos contra a concorrência de outras cidades ou países.
ATIVIDADE:
Havia espaço para contestação nas Corporações de Ofício? Justifique sua resposta.
Com a expansão das atividades comerciais, principalmente a partir do século XV, devido ao alargamento do comércio tanto rumo ao Oriente quanto em direção à América, houve a necessidade de aumentar a produção de mercadorias. Tornaram-se mais numerosas as
pequenas oficinas. A produção passou a ser direcionada a um mercado em crescente expansão, permanecendo, porém, os lucros nas mãos dos comerciantes. Com uma maior utilização da moeda, a ampliação das relações comerciais e o fortalecimento dos mercados nas cidades, tornou-se mais comum a utilização da mão-de-obra assalariada.
No século XVI, com o incremento da economia mercantil, o exclusivismo das corporações foi abalado. Ocorreu a ingerência dos comerciantes na distribuição de matéria-prima, na concessão de instrumentos de trabalho e na ampliação de mercados. Eles começaram a fornecer a matéria-prima aos trabalhadores fora da jurisdição das corporações e a controlar a comercialização do produto final. Surgia o sistema que ficou conhecido como putting-out, no qual aparecia a figurado comerciante capitalista, isto é, o intermediário entre a produção e a comercialização. Para atender a crescente procura por mercadorias,
tais intermediários levavam matéria-prima não apenas aos membros das corporações que, nas cidades, estavam dispostos a trabalhar para eles, mas também para os homens, mulheres e crianças das aldeias. Putting-out - pôr-fora / produção dispersa Putting-out system - sistema de divisão parcelada do trabalho Putter-out - aquele que faz realizar um trabalho fora (patrão)
A matéria-prima distribuída era transformada na própria casa pelo mestre artesão e os jornaleiros por ele empregados, tal como no sistema de corporações, mas com uma diferença importante: os mestres já não eram independentes; tinham ainda a propriedade dos instrumentos de trabalho e, embora dominassem o processo de produção, dependiam, para ter a matéria-prima, de um empreendedor que se interpusesse entre eles e o consumidor. Passaram a ser simplesmente tarefeiros assalariados, sendo-lhes vetado o acesso ao mercado, tanto para a obtenção das matérias-primas indispensáveis para a produção como para a comercialização de seus produtos. Ainda que o intermediário não modificasse a técnica de produção, buscou reorganizá-la com o objetivo de aumentar a produtividade. Já percebia, por exemplo, as vantagens da especialização, da divisão do trabalho para acelerar a produção. Não que sob o sistema corporativo a divisão do trabalho fosse inexistente. A produção têxtil, por exemplo, era dividida em tarefas separadas, cada uma controlada por especialistas. Nesse caso a divisão profissional do trabalho foi substituída pela divisão técnica do trabalho, isto é, a exclusividade profissional dominante nas oficinas de artesanato foi substituída pela distribuição de funções nas oficinas de manufaturas modernas.
Debate
Do século XVI ao XVIII, os artesãos independentes tendem a desaparecer, e em seu lugar
surgem os assalariados, que cada vez dependem mais do comerciante-capitalista-intemediário. Que fatores colaboraram para tal situação?
Os chamados enclosures ou cercamentos (principalmente na Inglaterra), que consistiam na expulsão em massa dos arrendatários e na transformação das terras de cultivo em pastagens para ovelhas, arrancaram grandes massas humanas de seus meios de subsistência. Essa situação ajuda a entender a prontidão de muitos camponeses em aceitar o trabalho em domicílio como “tarefeiros assalariados”. Dispondo em geral de poucas terras, a situação dos camponeses era precária. Muitos tinham que complementar seus ganhos agrícolas trabalhando por salários ou enviando seus filhos às cidades para se empregarem nas manufaturas.
Nas cidades as corporações fechavam-se na sua posição monopolista e excluíam os recém-chegados, o que dava margem ao surgimento de mercados ilícitos, abastecidos por mestres e jornaleiros clandestinos, que trabalhavam ilegalmente. Na maioria das vezes, sem a oportunidade de exercer autonomamente seu ofício, esses mestres e jornaleiros preteridos tornaram-se dependentes de quem se dispunha a lhes comprar a força de trabalho.
Nos século XVI e XVII, tanto devido aos enclosures ou cercamentos, como devido às numerosas e prolongadas guerras religiosas que devastaram o continente europeu, muitas pessoas foram arrancadas de seu modo costumeiro de vida e não conseguiram enquadrar-se na disciplina da nova condição, convertendo-se em uma multidão de esmoleiros, assaltantes, vagabundos. A solução encontrada pelos governos da época para essa situação foi usar a força para induzir essa multidão a vender sua força de trabalho. Daí ter surgido em toda a Europa Ocidental uma legislação contra a “vagabundagem”.
Documento 1
Na Inglaterra essa legislação começou sob governo de Henrique VII. Esmoleiros velhos e incapacitados recebem uma licença para mendigar. Em contraposição, açoitamento e encarceramento para os vagabundos válidos.
- Eduardo VI, 1547:
Estabelece que, se alguém se recusa a trabalhar, deverá ser condenado a se tornar escravo de quem o denunciou como vadio.
Atividade
Analise e comente os valores defendidos na legislação no documento 1. Registre suas principais impressões.
SIMULADO IDADE MÉDIA
Questões do simulado Ensino Médio 1º ano
1- Dentre os vários impostos e obrigações impostas aos servos e vilões pela organização econômica e social do feudalismo, destacavam-se:
a) o peculato e as talhas;
b) as aposentadorias e o protecionismo;
c) as banalidades e as corvéias;
d) a seguridade e o dízimo;
e) o seguro saúde e a taxa de gleba.
2- Num manuscrito do século XIII pode-se ler: "Os usurários são ladrões, pois vendem o tempo, que não Ihes pertence, e vender o bem alheio, contra a vontade do possuidor, é um roubo."
Apud LE GOFF, J., A bolsa e a vida. A usura na Idade Média. Trad., São Paulo, Brasiliense, 1989, p.39.
A respeito da usura é correto afirmar:
a) A usura foi tolerada pelos teólogos medievais que viviam nas cidades e criticada pelos teólogos que se dedicavam à vida contemplativa nos mosteiros rurais.
b) A usura era considerada um pecado pelos teólogos cristãos porque o usurário podia se apropriar, como um ladrão, de qualquer bem de seu devedor.
c) A prática da usura passou a ser considerada virtuosa pelos teólogos católicos, convencidos de que as críticas desferidas por Lutero eram pertinentes.
d) A usura era considerada um roubo do tempo que pertencia a Deus e foi praticada exclusivamente por judeus durante a Idade Média.
e) A usura foi condenada pelos teólogos medievais num contexto em que se desenvolvia uma economia monetária gerada no interior do feudalismo.
3- Era o imposto exigido pelos senhores feudais, pelo qual os servos deviam trabalhar alguns dias da semana no manso senhorial:
a) Banalidades.
b) Corvéia.
c) Mão Morta.
d) Hospedagem.
e) Talha.
4- São características da economia feudal:
a) agrária, auto-suficiente e trocas In Natura.
b) Industrial e mercantilista, baseada na exploração de terras.
c) agrária e comercial, com a produção destinada às exportações para o Oriente.
d) Comercial e extrativista.
e) artesanal, com produção de manufaturas para abastecer os feudos.
5- Caracterizou as relações políticas feudais, baseadas em laços de fidelidade e obrigações mútuas, cujas origens, encontram-se no costume germânico de fidelidade recíproca entre os chefes e seus guerreiros.
A frase acima, refere-se, respectivamente:
a) à simonia e o beneficium.
b) à talha e ao comitatus.
c) à inquisição e o ordálio.
d) à vassalagem e ao comitatus.
e) à vassalagem e ao cesaropapismo.
6- A compreensão do mundo por meio da religião é uma disposição que traduz o pensamento medieval, cujo pressuposto é
a) o antropocentrismo: a valorização do homem como centro do Universo e a crença no caráter divino da natureza humana.
b) a escolástica: a busca da salvação através do conhecimento da filosofia clássica e da assimilação do paganismo.
c) o panteísmo: a defesa da convivência harmônica de fé e razão, uma vez que o Universo, infinito, é parte da substância divina.
d) o positivismo: submissão do homem aos dogmas instituídos pela Igreja e não questionamento das leis divinas.
e) o teocentrismo: concepção predominante na produção intelectual e artística medieval, que considera Deus o centro do Universo.
7- As "três ordens" que caracterizam o funcionamento da sociedade na Idade Média européia podem ser identificadas com:
a) plebe, patriciado e tribunos.
b) monarquia, república e império.
c) militares, políticos e escravos.
d) tirania, autoritarismo e democracia.
e) religiosos, nobres e servos.
8- Do ponto de vista cultural, na passagem da Antigüidade para a Idade Média, é correto afirmar que o patrimônio greco-romano.
a) Só não sofreu perda maior devido à ação esclarecida de muitos chefes bárbaros.
b) Perdeu-se quase completamente porque, dado o seu caráter pagão, foi rejeitado pela Igreja.
c) Foi rejeitado pelos bárbaros em razão do caráter cristão com que foi revestido pela Igreja.
d) Não desapareceu com a antigüidade porque a Igreja serviu de conduto para sua sobrevivência.
e) Escapou do desaparecimento graças à preservação fortuita de textos antigos.
9- São características da Sociedade feudal, exceto:
a) Não havia diferenciação entre os setores do clero: este sobrevivia exclusivamente do trabalho de seus membros.
b) Um exemplo de fragmentação política do poder ocorreu na França. Já na Inglaterra as instituições vassálicas sobreviveram com uma forte centralização política nas mãos do rei.
c) A sociedade feudal era de ordens, imobilista, altamente hierarquizada, na qual a origem social estava definida, sendo a mobilidade vertical praticamente inexistente.
d) A sociedade feudal foi uma formação social cujas origens se ligam à decadência do Império Romano (crise do séc. III), à constituição dos reinos romano-germânicos (séc. V e VI) e à desagregação do Império Carolíngio (séc. IX).
e) Os escravos foram numericamente significativos até o século VIII e subsistiram pelo menos nas regiões meridionais da Europa Ocidental durante todo o período feudal.
15- Um dos obstáculos ao desenvolvimento da economia monetária na Europa medieval, a partir do século XII, foi representado
a) pela formação de monarquias nacionais e o estabelecimento de tributos estatais onerosos ao comércio.
b) pelo caráter religioso e antieconômico do movimento de expansão territorial, conhecido como cruzadas.
c) pela regulamentação da Igreja em matéria econômica, condenando, por exemplo, o empréstimo a juros.
d) pela assimilação, pela burguesia mercantil, de costumes econômicos dispendiosos, particulares à nobreza feudal.
e) pela concentração de parte da população ativa nos mosteiros, dedicando-se a uma economia auto-suficiente.
O MUNDO DO TRABALHO NA SOCIEDADE FEUDAL
Na Europa Ocidental, durante o feudalismo (séculos IX – XII), o setor predominante da economia era a produção agrícola. As classes governantes eram constituídas pelo clero e nobreza, que controlavam as terras, a produção e o poder político. A Igreja Católica detinha o monopólio espiritual, enquanto a nobreza encarregava-se da proteção militar. Mas quem realizava o trabalho na sociedade feudal para manter estas classes? Havia os artesãos que andavam de uma região para outra, produzindo o artesanato, em troca de casa, comida e algumas moedas, pois quase todo senhorio possuía sua produção de artesanato.
Cerca de dois ou três dias por semana, exerciam seus serviços nas terras do senhor, sem serem pagos pelo trabalho, sendo uma obrigação feudal a corveia. Os camponeses
estavam obrigados a realizar o cultivo primeiramente nos campos do senhor, depois cuidavam dos seus. Entregavam parte do que produziam ao senhor do manso, a talha. Pagava também as banalidades para utilizar o moinho, o forno e o lagar.
ATIVIDADE
Observe o documento e descreva o trabalho realizado pelos servos. Procure relacioná- lo com a economia feudal.
O camponês servil era um escravo?
O escravo podia ser comprado ou vendido em qualquer tempo, como ocorreu na antiguidade e na África da época moderna. O servo tinha o status legal de homem livre, embora os senhores procurassem mantê-los presos às suas terras por meio de obrigações feudais. Portanto, os servos não eram escravos, nem trabalhadores livres. A servidão era uma relação de trabalho no qual uma pessoa (servo) devia obrigações a outra (senhor). Estas obrigações geralmente eram pagas em forma de tributos, em troca de um pedaço de terra para produzir, de proteção e de segurança militar fornecidas por seus senhores feudais. Como os escravos, os servos deviam obediência e lealdade ao seu senhor.
Mas o que caracterizava um servo? O servo não podia entrar para ordens religiosas, não podia denunciar homens livres na justiça, nem dispor livremente de seus bens, não participava do exército (defesa), nem podia deslocar-se livremente. Havia, entretanto, diferenças nas condições de servo?
Texto 6
Por mais pesadas que estas obrigações pudessem parecer, num certo sentido, eram a antítese da escravatura, pois supunham a existência de um verdadeiro patrimônio nas mãos do devedor. Na sua qualidade de foreiro, o servo tinha os mesmos direitos que qualquer outro, a sua posse já não era precária e o seu trabalho, uma vez satisfeitos os tributos e os serviços, só a ele pertencia.
(Adaptado de BLOCH, 1987 p. 273-279).
Texto 7
Havia os ‘servos dos domínios’, que viviam permanentemente ligados à casa do senhor e trabalhavam em seus campos durante todo o tempo, não apenas por dois ou três dias na semana. Havia camponeses muito pobres, chamados ‘fronteiriços’, que mantinham pequenos arrendamentos de um hectare, mais ou menos, a orla da aldeia, e os ‘aldeães’, que nem mesmo possuíam um pequeno arrendamento, mas apenas uma cabana, e deviam trabalhar para o senhor como braços contratados, em troca de comida.
Havia os ‘vilãos’ que, ao que parece, eram servos com maiores privilégios pessoais e econômicos. Distanciavam-se muito dos servos na estrada que conduz à liberdade, gozavam de maiores privilégios e menores deveres para com o senhor. Uma diferença importante, também, está no fato de que os deveres que realmente assumiam eram mais preciosos que os dos servos. Isso constituía grande vantagem, porque, então, os vilãos sabiam qual a sua exata situação. Alguns vilãos estavam dispensados dos ‘dias de dádiva’ e realizavam apenas as tarefas normais de cultivo. Outros simplesmente não desempenhavam qualquer tarefa, mas pagavam ao senhor uma parcela de sua produção. Ainda outros não trabalhavam, mas faziam seu pagamento em dinheiro. Alguns vilãos eram quase tão abastados como homens livres, e podiam alugar parte da propriedade do senhor, além de seus próprios arrendamentos. Assim, havia alguns cidadãos que eram proprietários independentes e nunca se viram obrigados às tarefas do cultivo, mas pura e simplesmente pagavam uma taxa a seu senhorio.
(Adaptado de HUBERMAN, 1986, P. 7)
E o escravo, desapareceu do cenário feudal?
A escravidão reduziu, na Europa ocidental, à medida que aumentava a servidão. Na Inglaterra do século XII, os escravos realizavam trabalhos domésticos, na França, ao norte do Loire, quase não tinham importância numérica. Então, os escravos não desapareceram na época feudal; gregos e muçulmanos capturados por mercadores, ao longo da costa do mar Negro, Ásia ocidental, África do Norte, foram vendidos e utilizados no trabalho do campo, doméstico seja como eunucos, concubinas ou prostitutas. A escravidão adquiriu certa importância na Itália, devido a proximidade com os países muçulmanos, o que possibilitou o comércio de escravos da região do mediterrâneo e da África continental. Entretanto, predominava na sociedade feudal três ordens definidas: clero, nobreza e servos. Esses grupos sociais deveriam conviver em harmonia, cada um desempenhava funções determinadas.
O bispo Adalberon de Laon ( –1031/1031 ), do século XI, relata que:
Documento 7
O domínio da fé é uno, mas ha um triplo estatuto na Ordem. A lei humana impõe duas condições: o nobre e o servo não estão submetidos ao mesmo regime. Os guerreiros são protetores das igrejas. Eles defendem os poderosos e os fracos, protegem todo mundo, inclusive a si próprios. Os servos por sua vez tem outra condição. Esta raça de infelizes não tem nada sem sofrimento. Quem poderia reconstituir o esforço dos servos, o curso de sua vida e seus inumeráveis trabalhos? Fornecer a todos alimento e vestimenta: eis a função de servo. Nenhum homem livre pode viver sem eles. Quando um trabalho se apresenta e e preciso encher a despensa, o rei e os bispos parecem se colocar sob a dependência de seus servos. O Senhor e alimentado pelo servo que ele diz alimentar. Não há fim ao lamento e às lágrimas dos servos. A casa de Deus que parece una e, portanto, tripla: uns rezam, outros combatem e outros trabalham. Todos os três formam um conjunto e não se separam: a obra de um permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos outros.
(ADALBERON apud FRANCO JUNIOR, 1985, p. 34)
DEBATE
Dê sua opinião sobre o relato do bispo Adalberon de Laon presente no documento 7, em relação à harmonia das três ordens: clero, nobreza e servo. Escreva sua argumentação e debata com a sala.
ATIVIDADE
1- Utilizando-se dos textos 6 e 7, você irá construir um quadro destacando as diferenças entre as categorias de servos feudais. Depois construa uma narrativa histórica sobre as relações de trabalho medievais.
2- Caracterize e compare o trabalho nas sociedades escravista e feudal. Analise como as relações de trabalho nestas sociedades fundamentam diferenças socioeconômicas.
3- Em diferentes sociedades, os seres humanos construíram monumentos de magnífica arquitetura, que ainda hoje encantam pessoas do mundo inteiro. Destacam-se, entre estes, as construções das Pirâmides egípcias, o Coliseu de Roma e também os Castelos Medievais. Produza uma narrativa histórica destacando como foi possível a construção destes monumentos, considerando a tecnologia dos períodos expressos, bem como o trabalho empregado na construção destes monumentos.
O MUNDO DO TRABALHO NA SOCIEDADE ROMANA
Roma Antiga
Assim como na Grécia, em Roma a escravidão foi praticada por vários séculos. Na Península Itálica, no final do século III a.C., havia grandes massas de escravos, mas foi a partir do século I a.C. que generalizou- se a escravidão. A escravidão provinha principalmente dos prisioneiros de guerras, resultado das conquistas realizadas por Roma a partir de meados do século
III a.C., como as Guerra Púnicas (Roma contra Cartago).
Os romanos diferenciavam os escravos de acordo com o trabalho que realizavam. Os escravos destinados ao trabalho no campo integravam à família rústica, pesava sobre eles severa disciplina, submetidos às ordens do vilicus(feitor, arrendatário). No ano 160 a.C., Marcus Porcius Cato, também chamado de Catão, o Velho (243-143 a.C.), recomendava que sobrecarregasse os escravos com os serviços, sem importar-se com o tempo ou dias de feriado, pois a produção agrícola constituía-se na base econômica da sociedade romana. Nas cidades romanas, os escravos pertencentes aos ricos senadores ou plebeus faziam parte da “família urbana”, dependendo diretamente dos seus senhores ou de outros escravos. Esses escravos desempenhavam serviços domésticos e profissionais, como: arquitetos, músicos e gramáticos. Os escravos também desenvolviam serviços como: nas pedreiras, fábricas de tijolos e nos moinhos. Sendo assim, os romanos distinguiam os escravos entre especializados em determinados ofícios e os escravos de serviços mais penosos. Merecem destaque alguns aspectos do direito romano, em relação à condição dos escravos. Estes não tinham direito de contrair matrimônio legítimo, a união entre escravo e escrava era o contubernium, ou seja, não reconhecida legalmente. Os filhos de escravos pertenciam ao senhor. Portanto, os escravos eram vistos como “coisa”, ou um instrumento – instrumentum vocale, um grau acima do gado, consideradosinstrumentum semi- vocale –, isto é, propriedades de um senhor.
O escravo romano podia adquirir sua liberdade pela concessão de seu dono, vontade do príncipe ou pelo benefício da lei, como no caso da venda de um escravo com a cláusula de ser manumitido (liberto) em determinado prazo, quando vencido esse prazo, o escravo estava livre.
Filosofia e escravidão
Por volta dos séculos VI e V a.C., a filosofia teve início na Grécia. Esta dimensão do conhecimento humano possui grande importância para a sociedade contemporânea, pois tem contribuído na discussão de temas relacionados à política, à ética, à moral, à liberdade e outros. O conhecimento da filosofia só foi possível para os cidadãos gregos porque possuíram tempo reservado para dedicarem-se a reflexão, a cidadania e ao governo. Enquanto os escravos realizavam atividades não reflexivas, de transformação da natureza, consideradas inferiores pela sociedade grega. Portanto, a diferença social entre os homens era considerada “natural”, não havia, para os gregos, contradição entre a divisão do trabalho manual e intelectual, sendo assim, o comando de uma parte e a obediência de outra.
Na época de Aristóteles (século IV a.C.), discutia-se que havia homens feitos para liberdade e outros para a escravidão, isto significava que, todo aquele que não tinha nada de melhor para oferecer do que o uso de seu corpo e a força física, estavam condenados à escravidão por natureza.
ATIVIDADES
Leia os documentos que contém fragmentos produzidos pelos filósofos Aristóteles (Grécia) e Sêneca (4 a.C.- 65 d.C.) (Roma) e analise como eles pensavam sobre a escravidão.
Documento 4
Os instrumentos podem ser animados ou inanimados, por exemplo: o timão do piloto e inanimado, o vigia e animado (pois o subordinado faz as vezes de instrumento nas artes). Assim também os bens que se possui são um instrumento para a vida, a propriedade, em geral, uma multidão de instrumentos, o escravo um bem animado e algo assim como o instrumento prévio aos outros instrumentos. Se todos os instrumentos pudessem cumprir seu dever obedecendo as ordens de outro ou antecipando-se a elas, como contam das estatuas de Décalo ou dos tridentes de Hefesto, dos que diz o poeta que entravam por si sóna assembleia dos deuses, se as lançadeiras tecessem sós e os plectos tocassem sozinhos a citara, os maestros não necessitariam de ajuda, nem de escravos os amos.
O que é chamado habitualmente de instrumento, o e de produção, enquanto que os bens são instrumentos de ação; a lançadeira produz algo a parte de seu funcionamento, enquanto que a roupa ou o leito produzem apenas seu uso. Alem disso, como a produção e a ação diferem essencialmente e ambas necessitam de instrumentos, estes apresentam necessariamente as mesmas diferenças. A vida e ação, não produção, e por isso o escravo e um subordinado para a ação. Do termo propriedade pode-se falar no mesmo sentido que se fala de parte: a parte não somente e parte de outra coisa, senão que pertence totalmente a esta, assim como a propriedade. Por isso o amo não e do escravo outra coisa que amo, porém não lhe pertence, enquanto que o escravo não só e escravo do amo, como lhe pertence por completo.
Daqui deduz-se claramente qual e a natureza e a função do escravo: aquele que, por natureza, não pertence a si mesmo, senão a outro, sendo homem, esse e naturalmente escravo; e coisa de outro, aquele homem que, a despeito da sua condição de homem, e uma propriedade e uma propriedade sendo, de outra, apenas instrumento de ação, bem distinta do proprietário.
Documento 5
E louvável mandar em seus escravos com moderação. Mesmo no que diz respeito as nossas posses humanas, cumpre perguntar-se constantemente, não apenas tudo aquilo que podemos fazê-los sofrer sem sermos punidos, mas também o que permite a natureza da equidade e de bem, a qual ordena poupar mesmo os cativos e aqueles que se compra com dinheiro. Quando se trata de homens livres de nascença, honrados, e mais justo tratá-los não como material humano, mas como pessoas que estão sob tua autoridade e que te foram confiadas, não como escravos, mas como pupilos. Aos escravos, é permitido refugiarem-se junto a uma estátua. Embora tudo seja permitido para com um escravo, existem coisas que não podem ser autorizadas em nome do direito comum dos seres animados. Quem podia ter para com Vedio Polio um ódio maior que seus escravos? Ele engordava moréias com sangue humano e mandava jogar quem o ofendia num lugar que não era senão um viveiro de serpentes.
(SÊNECA apud PINSKY, 2000, p.12).
ATIVIDADE
a) Depois de analisar os documentos 4 e 5 sobre como os filósofos pensavam a escravidao, indique as permanências e as mudanças em relação aos respectivos contextos sócio-históricos da produção dos mesmos.
b) Faca um quadro comparativo, caracterizando o trabalho para os gregos e romanos. Depois discuta em equipe e apresente para a classe suas conclusões.
c) Depois da apresentação deste quadro comparativo, construa uma narrativa histórica levando em conta as especificidades das relações de trabalho na Grécia e em Roma.
A CIVILIZAÇÃO GREGA
MONITORAMENTO DE ESTUDO
1- Características geográficas. Escreva sobre as principais características geográficas da Grécia Antiga. Comente a frase: A fragmentação geográfica grega facilitou a fragmentação política.
2- Períodos históricos. Faça um esquema dos principais períodos da história grega e os principais fatos que os assinalaram.
3- Primeiros povos. Quais os primeiros povos que se estabeleceram no mundo grego durante o período Homérico?
4- Genos. Caracterize:
a. genos;
b. a vida social predominante nos genos;
c. os fatores que levaram à decadência das estruturas comunitárias dos genos.
5- Vida social na pólis. Comente a frase: Na pólis, a antiga divisão social por laços de parentesco foi sendo substituída pela divisão em classes sociais.
6- Esparta. Sobre a cidade de Esparta, responda:
a. Qual o objetivo principal das instituições espartanas?
b. Como estavam divididas as classes sociais de Esparta?
c. Como era a organização do sistema político?
7- Atenas. Sobre a cidade de Atenas, responda:
a. Como era a estrutura social de Atenas?
b. Como se deu a evolução política ateniense, da monarquia à democracia?
8- Colonização grega. Escreva quais foram as principais causas e consequências da colonização grega.
9- Guerras Médicas. Explique o que foram as Guerras Médicas.
10- Liga de Delos. Sobre a Liga de Delos, responda:
a. Qual era o objetivo da Liga de Delos?
b. Qual era a cidade líder da Liga?
c. O que foi o imperialismo ateniense?
11- Guerra do Peloponeso. Quais as principais causas e consequências da Guerra do Peloponeso?
12- Hegemonia tebana. O que levou a cidade de Tebas a assumir, em 371 a.C., a hegemonia grega?
13- Domínio macedônico. Responda às questões:
a. Qual o significado político da Batalha de Queroneia?
b. Quais as principais regiões conquistadas por Alexandre Magno?
c. O que aconteceu com o Império Macedônio após a morte de Alexandre Magno?
14. Filosofia e ciências. Faça um comentário sobre a frase: A filosofia nasceu na Grécia por volta do século VI a.C. Nasceu promovendo a passagem do saber mítico ao pensamento racional.
15. A mulher. Qual a situação social da mulher na Grécia antiga?
16. Arte grega. Comente sobre os elementos que marcaram a arte grega na literatura, arquitetura, teatro, etc.
17. Religião. Escreva sobre as principais características da religião grega.
18. Cultura helenística. Explique como se desenvolveu a chamada cultura helenística.
O MUNDO DO TRABALHO NA SOCIEDADE GREGA
Algumas das civilizações da antiguidade baseavam-se em sistemas escravistas, apesar da existência de outras formas de trabalho. Em cada sociedade essa relação de trabalho foi instituída visando a objetivos e a justificativas diferenciadas.
Grécia antiga
Para os gregos dos séculos VI a IV a.C., a condição de escravo estava ligada à concepção de política
que a sua sociedade desenvolveu, principalmente em Atenas. Na Grécia, o cidadão, para participar ativamente das discussões dos problemas da pólis (cidades-estado), bem como se dedicar à elaboração de leis e aos cargos públicos, necessitava do ócio - tempo livre - para exercer essas funções. Leia o texto do filósofo Will Durant (1885-1981) e analise a visão dele em relação ao trabalho.
Texto 1
Aristóteles o olhava com desprezo do alto da filosofia, como próprio de homens sem inteligência, como indicado apenas para escravos e como apenas preparador de homens para a escravidão. O trabalho manual, acreditava ele, entorpece e deteriora a mente, não deixando tempo nem energia para a inteligência, para a política.
(Adaptado de DURANT, 2001. p. 80)
Apesar da sociedade grega ser voltada para as cidades e à vida urbana, a agricultura constituía-se na principal atividade econômica, ou seja, eram livres os camponeses que retiravam da terra seus próprios meios de subsistência. Por isso, possuir terra tinha grande importância para esta sociedade. Na maioria das cidades gregas dos séculos VI e V a.C., só os cidadãos podiam ser proprietários. No entanto, em suas poucas faixas de terras férteis, os homens gregos tentavam subtrair do solo fraco: frutas, leguminosas, trigo, cevada e, em maior escala, azeite de oliva e vinho. A escassez de terras facilitou a formação de núcleos urbanos independentes.
Mas, para manter a estrutura das cidades, conseguir tempo livre para dedicar-se a sua administração e produzir riqueza, foi necessário que generalizasse o trabalho escravo. Portanto, o escravismo tornou-se o modo de exploração econômico que sustentava a cidade e o campo e que proporcionava privilégios às elites gregas.
A escravidão na antiguidade originou-se, principalmente, da guerra ou das dívidas, sendo esta última forma abolida na Grécia por volta do século V a.C. A grande maioria dos escravos destinava-se ao trabalho agrário, no entanto, realizavam todo o tipo de trabalho, seja nas minas, nas oficinas, nas residências e para o Estado.
Mas o que era ser escravo na Grécia Clássica? Ser escravo nas pólis significava não poder participar da vida política, ser excluído de parte das festas religiosas, ser desprovido de direitos e da educação para jovens cidadãos. Assim, o que restava ao escravo?
Texto 2
Para um escravo tornar-se adulto não implicava um salto qualitativo ou uma preparação gradual, como acontecia com os filhos dos cidadãos livres. Se o adjetivo andrápodon, homem-pré, usado para designar o escravo, tendia a identificá-lo com a condição dos quadrúpedes, tetrapoda, o termo pais (relativo a criança), pelo qual era freqüentemente chamado, realçava a sua eterna condição de menoridade.
Como diz Aristófones nas Vespas ‘é justo chamar pais a quem apanha pancada, mesmo que seja velho’. Em Atenas, só se podia aplicar castigos físicos a escravos e a crianças, não a adultos livres. Talvez só os escravos pedagogos, que acompanhavam os filhos do senhor à casa do mestre, é que podiam aprender indiretamente a ler e a escrever, assistindo às lições. Mas, por princípio, a única instrução que um escravo podia receber estava associada ao tipo de trabalho que desempenhava na casa do patrão, numa gama que ia dos menos duros serviços domésticos ao trabalho duríssimo nas minas, reservado exclusivamente aos escravos e em que também se utilizavam crianças, não só nas minas da Núbia, de que nos fala Diodoro Sículo, mas também, nas minas atenienses do Láurio.
(CAMBIANO apud BORGEAUD et al., 1994, p. 79)
ATIVIDADE
Analise os textos 1 e 2 e construa sua narrativa histórica sobre como era a condição da escravidão na grega.
O mundo do trabalho nas sociedades Pré-colombianas
Outros exemplos de sociedades teocráticas ocorreram na América, entre as civilizações pré-colombianas. A religião possuía grande importância para essas organizações sociais, o que tornou possível a formação de uma poderosa classe sacerdotal. O governo foi constituindo-se em uma teocracia centralizada, sendo as civilizações: Asteca (México), Maia (América Central e México) e Inca (Peru), os exemplos mais significativos devido ao seu alto grau de organização social. Os grupos
sociais mais privilegiados nestas sociedades eram os sacerdotes, governantes e guerreiros, enquanto a maioria...da população dividia-se entre camponeses livres e escravos. Você consegue imaginar como era organizado o trabalho nestas sociedades?
Os Astecas
Ocuparam a região do lago Texcoco, no vale do México, por volta do ano 1325. A sociedade asteca teve seu processo de destruição em meados do século XVI com a chegada dos espanhóis. Esta sociedade teve como base econômica as comunidades aldeãs, ou calpulli, que formavam uma Confederação Asteca. Nestas comunidades a posse da terra e o trabalho eram coletivos, cada família recebia um lote de onde retiravam sua subsistência e pagavam tributos. Esses camponeses ainda trabalhavam nas terras da nobreza.
Outro grupo numeroso foi o dos “criados perpétuos”, chamados de escravos pelos cronistas espanhóis. Este segmento social constituía-se por aqueles que não queriam se casar ou cultivar a terra que lhes pertencia, perdiam seus meios de subsistência e seus direitos. Pertenciam também a esse grupo os condenados por algum crime, sendo oferecidos para trabalhar para outras pessoas ou colocados à venda. Entendia- se como venda somente a força de trabalho do indivíduo e não sua pessoa, de modo que seus filhos continuavam livres; portanto, essa prática era diferente de outras formas de escravidão, como a greco-romana e a colonial moderna.
Os Maias
Surgiram na península de Iucatã, no México, aproximadamente no ano 700 a.C., e por volta do século IV d.C., os Maias ocupavam as regiões que hoje são os países do México, Belize e Guatemala. A desintegração desta sociedade ocorreu durante a chegada dos espanhóis devido a um processo contínuo de urbanização que destruiu seus meios de subsistência agrícolas.
Na sociedade Maia, os mazebualob, ou seja, classe inferior, eram os que produziam a riqueza. Realizavam o trabalho na agricultura e na construção das cidades. No período que não havia colheita, desenvolviam atividades de artistas, pintores, escultores, etc. Moravam nas periferias das cidades e trabalhavam em lugares cada vez mais distantes, conforme as novas terras eram cultivadas. No Antigo Império Maia, nem todos os escravos destinavam-se à produção; mas no Novo Império Maia, as constantes guerras transferiram os trabalhadores do campo para as atividades bélicas e os escravos foram utilizados nas construções militares. As lutas por escravos foram suspensas devido a chegada dos espanhóis (século XVI), dos quais tiveram que se defender. Neste caso, a escravidão provinha de prisioneiros de guerra, filhos de escravos, órfãos de pai e mãe ou adquiridos por troca ou compra.
A civilização Inca
Desenvolveu-se na América do Sul, próximo da cordilheira dos Andes, em regiões onde formam os atuais países do Peru, Chile, Equador e Bolívia. Foi a partir do século XII que os Incas estabeleceram-se na cidade de Cuzco, chefiados por Manco Capac, onde iniciou-se a construção de um grande império. Por volta do ano de 1531, o império Inca foi destruído pelos espanhóis. Entre os povos Incas, os llacta-runa, trabalhadores das comunidades aldeãs, ayllu, dedicavam-se a extrair da terra o alimento necessário
a sua subsistência, ainda tinham que trabalhar nas Terras do Sol, do Inca e dos kurakas (antiga nobreza local que representava o Estado).
Numa escala social inferior, encontravam-se os yanaconas, cuja origem deu-se na revolta da cidade Yanayku contra Tupac Yupangui (1438 – 1471). Sendo os yanaconas vencidos por este, foram condenados pelo Inca à servidão perpétua, estendendo-se aos seus descendentes. Osyanaconas realizavam diversos serviços, como: domésticos, carregadores, limpeza dos templos, etc. Conforme o Estado determinava, os criminosos, os prisioneiros de guerra, os membros de um ayllu ou rebelados podiam ser transformados em yanaconas.
No Império Inca também existia a mita. Essa compreendia uma obrigação de prestação de serviço gratuito e obrigatório, que durava em torno de dois a três meses por ano. Esta obrigação recaía sobre todas as pessoas casadas. O Estado requisitava, através da mita, grande número de mão-de-obra para realização dos serviços públicos, como: a construção de caminhos, fortalezas, centros urbanos, canais de irrigação, etc. Além disso, esses trabalhadores cuidavam do cultivo das terras e rebanhos do Inca, do Sol e dos Kurakas. E os Astecas desenvolviam as mesmas atividades de trabalho que os Incas?
Texto 1
Astecas
Quanto ao trabalho rural, existiam quatro tipos básicos de trabalhadores:
1) os calpuleque ou membros do calpulli (comunidade residencial com direitos comuns sobre as terras e uma organização interna de tipo administrativo, judiciário, militar e fiscal), que trabalhavam as terras deste para suprir suas próprias necessidades, pagar o tributo, e estar permitido alugar partes do solo do ‘barro’;
2) os teccaleque eram também membros de um calpulli, com a única diferença de que o resultado do seu trabalho servia para sustentar a corte, além de suprir as próprias necessidades;
3) Os arrendat´ários, que lavravam Terras alheias (de nobres ou de comunidades), dispondo ou não do uso de outras parcelas a título pessoal;
4) os mayeque, camada inferior da população rural, igualmente arrendatários (vitalícios) – eram a mão-de-obra dependente que trabalhava nas terras do rei, dos nobres e outros particulares.
(Adaptado de CARDOSO, 1986, pp. 77 e 79)
Texto 2
Incas
O ciclo da vida agrícola estava baseado na ajuda mútua (ayni), ou seja, em intercâmbios de trabalho entre as famílias para a semeadura e a colheita, bem como para outros fins (constru誽o de casas, por exemplo). A divindade ou fetiche tutelar do ayllu (aldeia habitada por diversas famílias nucleares vinculadas pelo parentesco formando uma comunidade), a waka, e o chefe, ou kuraka, recebiam prestações de trabalho da comunidade; não havia, porém, qualquer forma de tributos in natura além das prestações de trabalho. O kuraka centralizava, através de tais trabalhos forçados (mita), mais riqueza — representada em especial por bens raros, como: a coca, a bebida fermentada de milho, certos tipos de vestimentas, etc.
(Adaptado de CARDOSO, 1986, pp. 99-100.)
ATIVIDADE
1- Com base nos textos 2 e 3, compare as diferenças e semelhanças na divisão social do trabalho entre os povos pré-colombianos. Leve em conta os seus respectivos contextos sócio-históricos: Astecas e Incas. Anote suas conclusões.
2- Por que não podemos classificar as sociedades Astecas e Incas como escravistas? Faça sua argumentação por escrito.
3- O mundo do trabalho nas sociedades pré-colombianas tinha a mesma organização que no Egito Antigo? Discuta com seus companheiros e redija uma narrativa histórica sobre este tema.
EGITO ANTIGO
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA
- O Egito está situado no Nordeste da África em meio a dois imensos desertos: o da Líbia e o da Arábia.
- O Egito Antigo possuía um território estreito e comprido que compreendia duas grandes regiões: o Alto Egito (região do vale) e o Baixo Egito região do Delta do Nilo).
EGITO,dádiva do NILO
- O Nilo corta o Egito de sul a norte e deságua no mar Mediterrâneo.
- Anualmente, de junho a setembro, o Nilo transborda e rega a terra, tornando-a favorável à agricultura.A partir de outubro, inicia-se o período de semeadura, que se prolonga até mais ou menos fevereiro.A colheita ocorre de abril a junho.
FORMAÇÃO DO ESTADO NO EGITO ANTIGO
- Nomos: conjuntos de aldeias governadas pelos nomarcas, nome dado aos chefes mais poderosos.
- Com o tempo, as disputas entre os nomarcas por poder e terras geraram guerras e alianças entre eles. Alguns deles, ao vencerem os demais, tornavam-se reis, passando a controlar vários “nomos”. Surgiram então no Egito reinos que foram ficando cada vez maiores, até resumirem a dois: o Alto Egito (no vale do Nilo) e o Baixo Egito (no Delta do Nilo).
- Por volta do ano 3200 a.C., o rei Menés, do Alto Egito (no vale do Nilo), conquistou o Baixo Egito (no delta do Nilo), unificando os dois reinos.
- Menés tornou-se então o primeiro faraó (nome que se dava ao rei entre os egípcios) e o fundador da primeira dinastia (sucessão de reis pertencentes a uma mesma família).
- A coroa era um dos principais símbolos do faraó. Antes da unificação, o soberano do Alto Egito utilizava a coroa branca; a coroa vermelha era usada no Baixo Egito. Quando o Egito passou a ser governado por um único soberano, o faraó, a coroa tornou-se dupla: vermelha e branca, simbolizando a união dos dois reinos. Ao comandar suas tropas na guerra, o faraó usava a coroa azul.
A PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA EGÍPCIA
Antigo Império (3200 – 2300 a.C.): Durante a maior parte deste longo período, os faraós conseguiram impor sua autoridade ao reino e, auxiliados por seus funcionários, coordenaram a construção de grandes obras públicas, entre elas as pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos.
Médio Império(2000 – 158 a.C.): Neste período os egípcios expandiram seu território em direção ao Sul, conquistando a Núbia, região rica em minerais, entre os quais o ouro. Apesar da prosperidade material, o reino continuou envolvido em guerras e revoltas internas que o enfraqueceram. Isso encorajou os hicsos, povo originário da Ásia Central, a atravessarem o deserto e invadir o Egito, conquistando-o. A vitória dos hicsos deveu-se ao uso de cavalos e carros de combate, desconhecidos pelos egípcios. O domínio dos hicsos em território egípcio durou mais de 150 anos.
Novo Império(1580 – 525 a.C.): Este período inicia-se com a expulsão dos hicsos. Amósis IV, o líder militar da luta contra o invasor, inaugurou uma nova dinastia.
- Por volta de 1250 a.C., os hebreus, sob a liderança de Moisés, conseguiram fugir do Egito.
- Amósis IV implantou o monoteísmo, mas após a sua morte Tutancâmon restabeleceu o politeísmo.
- As conquista militares foram retomadas com Ramsés II, que derrotou os povos asiáticos, como os hititas.
- Em 662 a.C. os assírios invadiram o Egito.
- Psamético I expulsou os assírios e tornou-se faraó.
- Em 525 a.C. ao persas dominaram o Egito.
- Por 2500 anos o Egito foi província do Império Persa, território ocupado por macedônios, romanos, árabes, turcos e ingleses.
- Instauou-se no Egito uma dinastia de origem macedônica, chamada ptolomaica ou lágida, à qual pertenceu Cleópatra.
- O filho de Cleópatra com o imperador romano Júlio César foi o último rei ptolomaico.
- Depois desse período a região caiu sob o domínio romano e, mais tarde, árabe, que introduziram elementos culturais cristãos e muçulmanos, respectivamente.
- Os egípcios destacaram-se na Astronomia, produziram um calendário solar com 12 meses de 30 dias. Além de acreditarem na vida após a morte e praticar a mumificação.
A SOCIEDADE EGÍPCIA
O FARAÓ
- Era considerado um deus vivo, filho do Sol (Amon-Rá) e encarnação do deus-falcão (Hórus).
- Para os egípcios, toda a felicidade dependia do faraó e seu poder era ilimitado. Comandava os exércitos, distribuía a justiça, organizava as atividades econômicas.
- O faraó ostentava uma coroa e um cetro, símbolos de sua autoridade. Para os povos do Egito Antigo, o faraó era o pai e a mãe dos seres humanos; um governante com autoridade sobrenatural para recrutar o trabalho em massa necessário à manutenção do sistema de irrigação ao longo do Nilo.
- Além do poder e prestígio, o faraó possuía enorme riqueza. Era considerado o dono de todas as terras do Egito. Por isso, tinha o direito de receber impostos (pagos em produtos) das aldeias.
O VIZIR: A maior autoridade depois do faraó. Cabia a ele tomar decisões jurídicas, administrativas e financeiras em nome do faraó.
OS NOBRES: Descendentes das famílias mais importantes dos antigos nomos cuidavam da administração das províncias ou ocupavam os postos mais altos do exército.
OS SACERDOTES: Detinham muito poder, administravam todos os bens que os fiéis e o próprio Estado ofereciam aos deuses e tinham muita influência junto ao faraó. Enriqueciam porque ficavam com parte das oferendas feitas pela população aos deuses, além de serem dispensados do pagamento de impostos.
OS ESCRIBAS: os que dominavam a difícil escrita egípcia, encarregavam-se da cobrança dos impostos, da organização das leis e dos decretos e da fiscalização da atividade econômica em geral.
OS SOLDADOS: Nunca atingiam os postos de comando, pois estes eram reservados à nobreza.Eles viviam dos produtos recebidos como pagamento e dos saques que podiam realizar durante as guerras de conquista.
OS ARTESÃOS: Exerciam as mais diversas profissões. Trabalhavam como pedreiros, carpinteiros, desenhistas, escultores, pintores, tecelões, ourives, etc. Muitas de suas atividades eram realizadas nas grandes obras públicas (templos, túmulos, palácios, etc.).
OS CAMPONESES: Chamados no Egito de felás, constituíam a imensa maioria da população. Trabalhavam nas propriedades do faraó e dos sacerdotes e tinham o direito de conservar para si apenas uma pequena parte dos produtos colhidos. Eram também obrigados a trabalhar na construção de obras públicas grandiosas, como abertura de estradas, limpeza de canais, transportes de pedras necessárias às grandes obras, como túmulos, templos e palácios.
OS ESCRAVOS: Geralmente estrangeiros e prisioneiros de guerra, também compunham a base da sociedade. Trabalhavam, principalmente, nas minas e pedreiras do Estado, nas terras reais e nos templos. Muitas vezes faziam parte do exército em época de guerra e eram utilizados como escravos domésticos.
ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA
- A agricultura era a base da economia egípcia e, como já vimos, dependia das águas do Nilo.O trigo, a cevada, os legumes e as uvas constituíam as principais culturas.
- Os egípcios dedicavam-se também à criação de bois, asnos, patos e cabritos. Além disso, praticavam também a mineração de ouro, pedras preciosas e cobre, este último muito usado nas trocas comerciais com outros povos. O comércio era feito à base de trocas, mas limitava-se ao pequeno comércio e à permutação de artigos de luxo com o exterior.
- O artesanato do Egito era conhecido no mundo antigo. Com a madeira, o cobre, o ouro, o marfim, o couro, o papiro, o bronze, seus artesãos produziam móveis, brinquedos, jóias, tecidos, barcos, armas, tijolos e uma variedade de outros objetos.
A ESCRITA EGÍPCIA
- A escrita surgiu no Egito por volta de 3000 a .C.Os caracteres que os egípcios usavam para escrever eram chamados de hieróglifos, usados geralmente em inscrições oficiais e sagradas gravadas em pedra.
- Os egípcios desenvolveram também uma forma simplificada dessa escrita hieroglífica chamada escrita hierática (escrita dos deuses), utilizada principalmente pelos sacerdotes sobre madeira ou papiro.
- Havia ainda a escrita demótica (escrita do povo), mais popular, que era uma simplificação da hierática, geralmente usada em cartas e registros sobre papiro.
- Eles usavam tinta feita de fuligem e algumas vezes decoravam suas escritas com tinta vermelha.
RELIGIÃO
- Segundo a gênese egípcia, o mundo primordial era composto de um oceano primitivo (Num) e um botão de lótus, que continha Rá (deus sol). Rá ao se libertar, iluminou todo o Caos inicial e originou seus dois filhos divinos: Shu, o deus do Ar, e Tefnet, a deusa da Umidade. Deles nasceram Gheb, deus da Terra, e Nut, deusa do Céu. Gheb e Nut tiveram quatro filhos: Osíris, Seth, Ísis e Néftis.
- A religião foi uma instituição dominante em todos os aspectos da vida egípcia. A princípio, foi acentuadamente politeísta; cada localidade possuía seus próprios deuses. A unificação política do país reduziu os inúmeros deuses locais a um conjunto de grandes deuses nacionais, no qual se destacam: Ptah, representado pelo boi Ápis; Hórus, filho do casal Osíris e Ísis, deus do céu e tronco da monarquia faraônica; Anúbis, deus do vale dos mortos e da mumificação; thoth, deus da escrita e do tempo; Maat, deusa da justiça; Nut, divindade celeste; Hathor, deusa da magia, entre outros.
- A divindade mais popular era Osíris. Simboliza, muitas vezes, o próprio Nilo e seu nome estava ligado a uma lenda na qual seu irmão Seth o assassinara, reduzindo-lhe o corpo em pedaços. Recuperando a vida, graças a sua esposa Ísis, passou a habitar a morada dos deuses, onde julgava os mortais de acordo com suas ações na terra, no Tribunal de Osíris.
- A tentativa de implantação do monoteísmo na religião egípcia foi feita por Amenófis IV, criando um novo culto que personificava todos os deuses em um único, Aton, representado pelo disco solar.
- Amenófis IV chegou a mudar a capital (Tebas) para uma nova cidade. Ikutaton – "horizontes de Aton", a fim de dominar completamente o poderoso clero tebano devotado ao antigo culto de Amon-Rá.
- Com morte prematura de Amenófis IV, a reação sacerdotal contra a nova concepção religiosa fez-se sentir bem forte. Foi restaurado o culto a Amon-Rá, sendo que o sucessor de Amenófis IV trocou o nome de Tutankhaton para Tutankhamon.
O MUNDO DO TRABALHO EM DIFERENTES SOCIEDADES
Perguntas de um Operário Letrado
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas.
(Adaptado de BRECHT, 1976, p.66)
O poema de Bertold Brecht (1898-1956) faz questionamentos sobre os anônimos que construíram as diferentes sociedades. Você consegue identificar quais foram esses trabalhadores e a posição social que ocuparam nas sociedades em que viveram? Qual a relação entre o poema e o trabalho em diferentes sociedades: antiguidade, pré-colombianas e feudal?
O mundo do trabalho nas sociedades teocráticas
Egito antigo
No Egito, por volta do ano 3100 a.C., Menés, governante do Alto Egito, fez a unificação dos reinos: do Alto Egito (região ao sul, com extenso vale no rio Nilo) com o Baixo Egito (ao norte em torno do delta do Rio Nilo). Então, Menés tornou-se faraó do Egito. Foi no Egito antigo, localizado no nordeste do continente africano, que desenvolveu-se um tipo de sociedade teocrática. O Faraó era considerado monarca de origem divina e proprietário de todas as terras. A sociedade egípcia compunha-se de altos funcionários do governo, sacerdotes e governadores de províncias ou nomos (os nomarcas), que tinham como base do regime de produção a servidão coletiva dos camponeses.
O felá (camponês) constituía a maioria da população. Estes trabalhadores das aldeias cultivavam as terras e pagavam pelo seu uso em quantidades determinadas de cereal. Os camponeses também prestavam serviços ao Estado nas construções de canais de irrigação, diques, templos, palácios e túmulos. Recebiam por esse período de trabalho apenas alimentos.
Outros trabalhadores também possuíam uma vida difícil como a dos felás, eram eles: pedreiros, mineiros, escultores, marceneiros, etc. Os escravos no Egito resultavam das conquistas dos faraós na Núbia, na Líbia e na Síria, principalmente nos séculos XV e XIII a.C. Foram utilizados nos serviços domésticos e nas grandes obras públicas. A condição de escravo doméstico era mais suave do que a dos escravos utilizados nas grandes obras públicas, pelo rigor do trabalho exigido nestas últimas.
Será que existiam outros tipos de trabalhadores no Egito?
Texto 1
Além da mão-de-obra ocasional fornecida pelos camponeses na época da inundação, quando os trabalhos agrícolas se paralisavam, as obras públicas empregavam também trabalhadores permanentes, remunerados em espécie. A arqueologia revelou verdadeiras ‘cidades operárias’ (por exemplo, na necrópole de Tebas e em Tell el-Amarna). A escravidão teve certa importância econômica nas minas e pedreiras estatais e, no Reino Novo, também nas terras reais e dos templos. Houve igualmente tropas militares auxiliares constituídas de escravos, e existiam escravos domésticos, às vezes numerosos. A economia egípcia, no entanto, nunca foi ‘escravista’ no sentido em que o foi na Grécia clássica e helenística e a da Roma de fins de República e do Alto Império. (Adaptado de CARDOSO, 1982, p. 41)
Teocracia:
O termo Teocracia designa um ordenamento político pelo qual o poder é exercido em nome de uma autoridade divina por homens que se declaram seus representantes na Terra, quando não uma encarnação sua. Bem característica do sistema teocrático é a posição preeminente reconhecida à hierarquia sacerdotal, que direta ou indiretamente controla toda vida social em seus aspectos sacros e profanos. A Teocracia etimologicamente significa ‘Governo de Deus’.
(Adaptado de BOBBIO e outros, 1986, p.1237).
ATIVIDADE
Leia a definição de teocracia proposta pelo cientista político italiano Norberto Bobbio (1909-2004) e o texto 1. Faça uma narrativa histórica destacando como eram as relações de trabalho no Egito Antigo.
TRABALHO ESCRAVO E TRABALHO LIVRE
Tiro renda e boto renda
Faço renda na almofada
Por causa de meu benzinho
Não faço renda nem nada...
Estou fazendo esta renda
Pra buscá e ganhá dinheiro
Pra comprá um par de pente
Pra botá no meu cabelo
Esta almofada me mata
Estes bilros me consome
Os alfinetes me mata
A renda me tira a fome...
(“Bendito o trabalho que se faz cantando”. Cantos de trabalho das rendeiras de Guarapari recolhidos em agosto de 1952. In: NEVES, Guilherme Santos. Folclore, dez. 1980).
Quando os turistas passeiam pelo litoral do estado do Espírito Santo encontram belas rendas para serem compradas. No entanto, poucos deles levam em conta o esforço despendido pelas mulheres que produzem esse belíssimo artesanato. Sobre o que cantam as rendeiras de Guarapari?
Cotidianamente defrontamo-nos com duas realidades comuns: algumas pessoas que estão satisfeitas com as atividades que desempenham no trabalho, sentem-se realizadas, e recebem bem pelo que fazem, enquanto outras, insatisfeitas, em maior número, reclamam que o trabalho é cansativo e recebem baixos salários.
Historicamente, os seres humanos têm desenvolvido grandes civilizações através da organização social do trabalho. Cada sociedade organizou seu mundo do trabalho de forma diferente. Algumas pessoas realizavam as tarefas mais difíceis, enquanto outras sustentavam-se com muitos privilégios.
Sendo assim, podemos questionar: a organização do mundo do trabalho nas sociedades passadas apresentam semelhanças e diferenças com a nossa forma de trabalhar? Nas diferentes sociedades o trabalho era realizado por quais grupos? O trabalho é uma atividade cansativa e sem satisfação? É possível haver satisfação com o trabalho? Como ele é organizado socialmente?
O estudo sobre o mundo do trabalho relacionado as diferentes sociedades torna-se importante para entendermos melhor estas e outras questões. Para isso, é muito importante que se entenda o que é o trabalho e por quais mudanças ele passou ao logo das diferentes sociedades. O núcleo do nosso estudo refere-se às mudanças surgidas no mundo do trabalho com a substituição dos trabalhos servil e escravo pelas diferentes formas de trabalho assalariado. Portanto, quais os significados que o mundo do trabalho vem adquirindo no decorrer da história? Para as sociedades atuais qual a importância do trabalho? Muitos sujeitos históricos anônimos trabalharam na construção das sociedades em que viviam. Você consegue identificar quais foram esses trabalhadores e a posição social que ocuparam nas sociedades em que viveram? Será que sempre existiu salário para o trabalho? Trabalho sempre esteve relacionado com salário? Perante as leis do Brasil somos trabalhadores livres. Mas, para chegarmos a essa liberdade passamos por um processo de transição. Afinal o que foi essa transição do trabalho? Podemos ter a certeza de que ela foi de fato efetivada? Não importa sua escolha profissional ou sua classe social! Você já percebeu que um dos seus maiores desafios é a inserção no mundo do trabalho?
AMÉRICA - COLONIZAÇÂO EUROPEIA
1 - O SISTEMA COLONIAL.
- A colonização foi consequência da expansão marítima, e seu objetivo fundamental era atender aos interesses mercantilistas das metrópoles europeias.
- A conquista e exploração de colônias é um ponto essencial das ideias mercantilistas.
- As colônias favoreciam a acumulação de riqueza pela metrópole, de acordo com os interesses burgueses e do Estado metropolitano (Estado moderno).
- O pacto colonial era um elemento fundamental. Também conhecido como exclusivo comercial.
- Objetivava sempre uma balança de comércio favorável.
Colônias de Exploração.
- Localizadas em zonas tropicais.
- Latifúndio.
- Monocultura.
- Trabalho compulsivo.
- Produção para a exportação.
- Ausência de manufaturas.
- Submetidas ao pacto colonial.
Colônias de Povoamento.
- Colonização feita por pessoas que fugiam da metrópole em busca de um novo lar.
- Localizadas em zonas temperadas.
- Pequena propriedade.
- Policultura.
- Trabalho livre e servo de contrato.
- Produção para o mercado interno.
- Desenvolvimento de manufaturas.
- Livre-comércio.
2 - A COLONIZAÇÃO ESPANHOLA.
2.1 - A CONQUISTA (1ª metade do séc. XVI)
- Domínio dos espanhóis sobre os povos pré-colombianos.
- Fatores que contribuíram para a vitória dos espanhóis: superioridade militar; apoio dos povos dominados por Incas e Astecas; disputa pelo poder no Império Inca; novas doenças trazidas pelos espanhóis; a expansão da religião cristã (nesse caso católica); profecias indígenas que anunciavam a chegada de deuses (fator: mentalidade / cultural).
- Realizada por particulares.
- Distribuição de adelantados: direito de governo e exploração de territórios na América, concedido pelo governo espanhol aos conquistadores, que ficavam obrigados ao pagamento de impostos.
- Genocídio dos indígenas e diminuição da mão-de-obra, principalmente na América Central e Antilhas.
2.2 - A ECONOMIA COLONIAL.
- Principal atividade econômica: mineração.
- Atividades complementares: agricultura e pecuária, realizadas em haciendas, voltadas para o mercado interno.
- Mita: trabalho compulsório, temporário e “remunerado”, indígena na mineração.
- Encomienda: trabalho compulsório e temporário na agricultura.
- Antilhas: agricultura de plantation, mão-de-obra escrava de negros africanos.
- Asiento: direito concedido pelo governo espanhol aos comerciantes portugueses para venderem, com exclusividade, escravos africanos na América espanhola.
- Comércio colonial: feito através do sistema de comboios, realizado duas vezes ao ano – e do sistema de portos únicos - os navios que faziam comércio entre a América e a Espanha só podiam atracar nos seguintes portos: Vera Cruz (México), Havana (Cuba), Porto Belo (Panamá) e Cartagena (Colômbia), na América; Sevilha e, depois, Cádiz, na Espanha.
2.3 - A SOCIEDAE COLONIAL
- Chapetones: brancos nascidos na Espanha que vinham para a América e ocupavam os principais cargos administrativos, militares e religiosos.
- Criollos: brancos nascidos na América, eram mineradores, fazendeiros ou comerciantes, mas não tinham acesso aos principais cargos.
- Mestiços: resultado da miscigenação racial eram, em geral, capatazes, artesãos ou pequenos comerciantes.
- Indígenas: maioria da população eram explorados pelos espanhóis através da mita e da encomienda, mas não eram escravos.
- Negros: escravos, localizados, principalmente, nas Antilhas, não possuíam nenhum direito.
2.4 - A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL.
2.4.1 - CARACTERÍSTICAS.
- Centralização do poder.
- Montagem de uma grande máquina administrativa.
- Fundação de muitas cidades.
- Importante participação da Igreja Católica – forneceu a justificativa: “salvacionista”.
2.4.2 - PRINCIPAIS ÓRGÃOS.
- CONSELHO DAS ÍNDIAS ou CONSELHO REAL (subordinado à Casa de Madri – Aragão): responsável pela administração colonial.
- CASA DE CONTRATAÇÃO (subordinado à Casa de Sevilha – Castela): controlava o comércio colonial.
- A administração colonial: VICE-REINADOS e CAPITANIAS GERAIS.
- Os vice-reinados existentes eram: Nova Espanha ( México e parte do território atualmente pertencente aos Estados Unidos), Nova Granada ( Colômbia e Equador), Peru e Prata ( Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai).
- As capitanias gerais eram: Flórida, Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile.
- Os cargos de vice-rei e capitão-geral eram exercidos por representantes da Coroa vindos diretamente da Espanha.
- Desta forma, o aparelho político-administrativo colonial era dominado e monopolizado por espanhóis natos.
- As Capitanias Gerais eram localizadas em regiões onde os espanhóis não haviam consolidado seu domínio ou em regiões estratégicas para o controle das rotas comerciais.
- AUDIÊNCIAS: tribunais que, além das funções judiciárias tinham funções administrativas e fiscalizavam os vice-reis.
- CABILDOS (ajuntamientos): câmaras municipais formadas pelas elites; eram o menor órgão da administração colonial, representavam o poder local e eram o único órgão administrativo ao qual os Criollos tinham acesso.
3- A COLONIZAÇÃO INGLESA.
- Colônias de exploração: localizadas no Canadá, na costa leste dos EUA, em algumas ilhas das Antilhas e na Guiana Inglesa; plantation; trabalho escravo africano; agricultura de cana-de-açúcar, fumo, anil e algodão.
- Colônias de povoamento: localizadas na Nova Inglaterra; pequenas propriedades rurais, policultoras, trabalho familiar, produção de subsistência e mercado local; colonizadas por ingleses fugidos das perseguições políticas e religiosas (calvinistas, presbiterianos) no século XVII.
4- COLONIZAÇÃO FRANCESA.
- Colônias de exploração: localizadas em ilhas do Caribe, na Guiana Francesa e na faixa central da América do Norte, que ia de Quebec até Lousiana; plantation; trabalho escravo; agricultura de cana-de-açúcar, algodão, anil e fumo; extração de couro (América do Norte).
- Tentativas (fracassadas) de anexação de territórios na América do Sul (“invasões francesas” no Brasil).
5- COLONIZAÇÃO HOLANDESA (FLAMENGOS, PROVÍNCIAS UNIDAS, OU PAÍSES BAIXOS).
- Iniciada no século XVII, a partir do domínio espanhol à coroa portuguesa.
- Tentativas fracassadas na América Portuguesa (recuperar comércio e interesses perdidos).
- Depois conquistaram ilhas nas Antilhas e a Guiana Holandesa.
- Colônias de exploração (plantation).
FONTE: Napoleão Gonçalves Filho. FOLHA DIRIGIDA, Caderno do Vestibular, abr. 2001.
COLONIALISMO E IMPERIALISMO NA ÁSIA E NA ÁFRICA
MONITORAMENTO DE ESTUDO
1- Ideologia. Em termos de ideologia, que diferenças existiram entre as duas fases da expansão colonial-imperialista?
2- Justificativa. Que argumentos foram utilizados pelos críticos da expansão colonial-imperialista para justificar suas ações?
3- Recursos. Quanto aos recursos quais foram aqueles usados pelos ingleses para conquistar a Índia?
4- Guerra do ópio. Analise as consequências das guerras do ópio para o Império Chinês.
5- Independência do Japão. De que forma as mudanças ocorridas durante a Era Meiji podem ser relacionadas com a independência do Japão?
6- Partilha da África. Quais as principais razões do processo de partilha da África? E quais foram suas consequências a curto e longo prazo?
7- Revolução industrial: Que semelhanças e diferenças podem ser apontadas entre o processo de industrialização ocorrido na segunda metade do século XVIII e aquele verificado no final do século XIX?
8- Justificativa da dominação: A chamada “missão civilizadora”, que justificava ideologicamente o neocolonialismo, desapareceu plenamente? Apresente argumentos para justificar sua resposta.
9- Relação nacionalismo e capitalismo: Considerando o nacionalismo do século XIX, de que maneira a política nacionalista e alguns países representou um empecilho à produção capitalista na segunda metade do século XIX?
10- Contestação: Explique a afirmação: “nenhuma potência colonial exerceu sua dominação sem sofre contestação”, apresentando dados históricos que possam subsidiar tal afirmação.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
MONITORAMENTO DE ESTUDO
1- Avanços técnicos. Quanto às mudanças que se processaram devido à industrialização:
-
Explique, em linhas gerais, as grandes alterações na vida econômica impulsionada pela Revolução Industrial.
-
Compare a produtividade da Idade Moderna com o crescimento da produtividade na Revolução Industrial.
-
Como se dava a produção artesanal na final da Idade Média?
-
Explique por que nas manufaturas há um avanço nos métodos de produção.
-
Explique o papel do capitalista e do trabalhador na fase de predomínio das manufaturas.
-
O que caracteriza a maquinofatura?
2- A industrialização inglesa. Resuma a primeira etapa da revolução Industrial que, praticamente, se restringiu à Inglaterra.
3- A expansão industrial. Caracterize a expansão da Revolução Industrial pela Europa e outros continentes.
4- Pioneirismo inglês. Responda:
-
Como a Inglaterra acumulou os capitais que, cada vez mais, foram investidos no desenvolvimento da produção industrial?
-
Em que medida as alterações na zona rural favoreceram a industrialização da Inglaterra?
-
Qual a relação entre o crescimento populacional e o sucesso da industrialização?
5- Condição de trabalho. Exponha a situação do trabalhador nas primeiras fábricas.
6- Consequências: Analise as consequências da Revolução Industrial, tendo como referências os seguintes itens:
-
a alienação;
-
a produção em série;
-
a urbanização;
-
o transporte e a comunicação.
7- Liberalismo econômico. Dos formuladores da ideologia burguesa:
-
Quais as principais ideias de Adam Smith?
-
Qual era o perigo apontado por Malthus?
-
Como David Ricardo justificava os baixos salários que favoreciam os capitalistas?
8- Socialismo utópico. Explique como os teóricos do socialismo utópico buscavam alternativas para superar as injustiças da sociedade industrial:
-
Saint-Simon;
-
Charles Fourier;
-
Pierre Proudhon;
-
Robert Owen.
9- Socialismo científico. Resuma as principais ideias do marxismo: dialética, modo de produção, luta de classes e mais-valia.
10- Pensamento social-cristão. Contraponha as soluções do pensamento social-cristão com a visão marxista da luta de classes.
11- Rerum Novarum. Como se posicionou a Igreja frente à realidade estabelecida com o capitalismo industrial e as questões sociais que dele decorreram?
PAI CONTRA MÃE
Machado de Assis
A ESCRAVIDÃO levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras Instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-d e- flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber. perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dous pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma
vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com freqüência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando , apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conh ecer as ruas d a cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apen as ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa: "gratificar -se- á generosamente", -- ou "receberá uma boa gratificação". Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na pon ta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoutasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propried ade, trazia esta outra nobreza
implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia em tal ofício por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem à desordem.
Cândido Neves, -- em família, Candinho,-- é a pessoa a quem se liga a história de uma fuga, cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos fugidos. Tinha um defeito grave esse homem, não agüentava emprego nem ofício, carecia de estabilidade; é o que ele chamava caiporismo. Começou por querer aprender tipografia, mas viu cedo que era preciso algum tempo para compor bem, e ainda assim talvez não ganhasse o bastante; foi o que ele disse a si mesmo. O comércio chamou-lhe a atenção, era carreira
boa. Com algum esforço entrou de caixeiro para um armarinho. A obrigação, porém, de
atender e servir a todos feria-o na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas estava na rua por sua vontade. Fiel de cartório, contínuo de uma repartição anexa ao Ministério do Império, carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de obtidos.
Quando veio a paixão da moça Clara, não tinha ele mais que dívidas, ainda que poucas, porque morava com um primo, entalhador de ofício. Depois de várias tentativas para obter emprego, resolveu adotar o ofício do primo, de que aliás já tomara algumas lições.
Não lhe custou apanhar outras, mas, querendo aprender depressa, aprendeu mal. Não fazia obras finas nem complicadas, apenas garras para sofás e relevos comuns para cadeiras. Queria ter em que trabalhar quando casasse, e o casamento não se demorou muito.
Contava trinta anos. Clara vinte e dous. Ela era órfã, morava com uma tia, Mônica, e cosia com ela. Não cosia tanto que não namorasse o seu pouco, mas os namorados apenas queriam matar o tempo; Não tinham outro empenho. Passavam às tardes, olhavam muito para ela, ela para eles, até que a noite a fazia recolher para a costura. O que ela notava é que nenhum deles lhe deixava saudades nem lhe acendia desejos.
Talvez nem soubesse o nome de muitos. Queria casar, naturalmente. Era, como lhe dizia a tia, um pescar de caniço, a ver se o peixe pegava, mas o peixe passava de longe; algum que parasse, era só para andar à roda da isca, mirá-la, cheirá-la, deixá-la e ir a outras.
O amor traz sobrescritos. Quando a moça viu Cândido Neves, sentiu que era este o possível marido, o marido verdadeiro e único. O encontro deu-se em um baile; tal foi-- para lembrar o primeiro ofício do namorado, -- tal foi a página inicial daquele livro, que tinha de sair mal composto e pior brochado. O casamento fez-se onze meses depois, e foi a mais bela festa das relações dos noivos. Amigas de Clara, menos por amizade que por inveja, tentaram arredá-la do passo que ia dar. Não negavam a gentileza do noivo, nem o amor que lhe tinha, nem ainda algumas virtudes; diziam que era dado em demasia a patuscadas.
--Pois ainda bem, replicava a noiva; ao menos, não caso com defunto. --Não, defunto não; mas é que...
Não diziam o que era. Tia Mônica, depois do casamento, na casa pobre onde eles se foram abrigar, falou-lhes uma vez nos filhos possíveis. Eles queriam um, um só, embora viesse agravar a necessidade.
--Vocês, se tiverem um filho, morrem de fome, disse a tia à sobrinha.
--Nossa Senhora nos dará de comer, acudiu Clara. Tia Mônica devia ter-lhes feito a advertência, ou ameaça, quando ele lhe foi pedir a mão da moça; mas também ela era amiga de patuscadas, e o casamento seria uma festa, como foi.
A alegria era comum aos três. O casal ria a propósito de tudo. Os mesmos nomes eram objeto de trocados, Clara, Neves, Cândido; não davam que comer, mas davam que rir, e o riso digeria-se sem esforço.
Ela cosia agora mais, ele saía a empreitadas de uma cousa e outra; não tinha emprego certo.
Nem por isso abriam mão do filho. O filho é que, não sabendo daquele desejo específico, deixava-se estar escondido na eternidade. Um dia. porém, deu sinal de si a criança; varão ou fêmea, era o fruto abençoado que viria trazer ao casal a suspirada ventura. Tia Mônica ficou desorientada, Cândido e Clara riram dos seus sustos.
--Deus nos há de ajudar, titia, insistia a futura mãe.
A notícia correu de vizinha a vizinha. Não houve mais que espreitar a aurora do dia grande. A esposa trabalhava agora com mais vontade, e assim era preciso, uma vez que, além das costuras pagas, tinha de ir fazendo com retalhos o enxoval da criança. À força de pensar nela, vivia já com ela, media-lhe fraldas, cosia-lhe camisas. A porção era escassa, os intervalos longos. Tia Mônica ajudava, é certo, ainda que de má vontade.
--Vocês verão a triste vida, suspirava ela. --Mas as outras crianças não nascem também? Perguntou Clara. --Nascem, e acham sempre alguma cousa certa qu e comer, ainda que pouco... --Certa como? --Certa, um emprego, um ofício, uma ocupação, mas em que é que o pai dessa infeliz criatura que aí vem gasta o tempo?
Cândido Neves, logo que soube daquela advertência, foi ter com a tia, não áspero mas muito menos manso que de costume, e lhe perguntou se já algum dia deixara de comer.
--A senhora ainda não jejuou senão pela semana santa, e isso mesmo quando não quer jantar comigo. Nunca deixamos de ter o nosso bacalhau... --Bem sei, mas somos três. -- Seremos quatro. --Não é a mesma cousa. -- Que quer então que eu faça, além do que faço? -- Alguma cousa mais certa. Veja o marceneiro da esquina, o homem do armarinho, o tipógrafo que casou sábado, todos têm um emprego certo... Não fique zangado; não digo que você seja vadio, mas a ocupação que escolheu é vaga. Você passa semanas sem vintém. -- Sim, mas lá vem uma noite que compensa tudo, até de sobra. Deus não me abandona, e preto fugido sabe que comigo não brinca; quase nenhum resiste, muitos entregam-se logo.
Tinha glória nisto, falava da esperança como de capital seguro. Daí a pouco ria, e fazia rir à tia, que era naturalmente alegre, e previa uma patuscada no batizado.
Cândido Neves perdera já o ofício de entalhador, como abrira mão de outros muitos, melhores ou piores. Pegar escravos fugidos trouxe-lhe um encanto novo. Não obrigava a estar longas horas sentado. Só exigia força, olho vivo, paciência, coragem e um pedaço de corda. Cândido Neves lia os anúncios, copiava-os, metia-os no bolso e saía às pesquisas. Tinha boa memória. Fixados os sinais e os costumes de um escravo fugido, gastava pouco tempo em achá-lo, segurá-lo, amarrá-lo e levá-lo. A força era muita, a agilidade também. Mais de uma vez, a uma esquina, conversando de cousas remotas, via passar um escravo como os outros, e descobria logo que ia fugido, quem era, o nome, o dono, a casa deste e a gratificação; interrompia a conversa e ia atrás do vicioso.
Não o apanhava logo, espreitava lugar azado, e de um salto tinha a gratificação nas mãos. Nem sempre saía sem sangue, as unhas e os dentes do outro trabalhavam, mas geralmente ele os vencia sem o menor arranhão.
Um dia os lucros entraram a escassear. Os escravos fugidos não vinham já, como dantes, meter-se nas mãos de Cândido Neves. Havia mãos novas e hábeis. Como o negócio crescesse, mais de um desempregado pegou em si e numa corda, foi aos jornais, copiou anúncios e deitou-se à caçada. No próprio bairro havia mais de um competidor.
Quer dizer que as dívidas de Cândido Neves começaram de subir, sem aqueles pagamentos prontos ou quase prontos dos primeiros tempos. A vida fez-se difícil e dura.
Comia-se fiado e mal; comia-se tarde. O senhorio mandava pelo aluguéis.
Clara não tinha sequer tempo de remendar a roupa ao marido, tanta era a necessidade de coser para fora. Tia Mônica ajudava a sobrinha, naturalmente. Quando ele chegava à tarde, via-se-lhe pela cara que não trazia vintém. Jantava e saía outra vez, à cata de algum fugido. Já lhe sucedia, ainda que raro, enganar-se d e pessoa, e pegar em escravo fiel que ia a serviço de seu senhor; tal era a cegueira da necessidade. Certa vez capturou um preto livre; desfez-se em desculpas, mas recebeu grande soma de murros que lhe deram os parentes do homem.
--É o que lhe faltava! exclamou a tia Mônica, ao vê-lo entrar, e depois de ouvir narrar o equívoco e suas conseqüências. Deixe-se disso, Candinho; procure outra vida, outro emprego.
Cândido quisera efetivamente fazer outra cousa, não pela razão do conselho, mas por simples gosto de trocar de ofício; seria um modo de mudar de pele ou de pessoa. O pior é que não achava à mão negócio que aprendesse depressa.
A natureza ia andando, o feto crescia, até fazer-se pesado à mãe, antes de nascer.
Chegou o oitavo mês, mês de angústias e necessidades, menos ainda que o nono, cuja narração dispenso também. Melhor é dizer somente os seus efeitos. Não podiam ser mais amargos.
--Não, tia Mônica! bradou Candinho, recusando um conselho que me custa escrever, quanto mais ao pai ouvi-lo. Isso nunca!
Foi na última semana do derradeiro mês que a tia Mônica deu ao casal o conselho de levar a criança que nascesse à Roda dos enjeitados. Em verdade, não podia haver palavra mais dura de tolerar a dous jovens pais que espreitavam a criança, para beijá-la, guardá-la, vê-la rir, crescer, engordar, pular... Enjeitar quê? enjeitar como? Candinho arregalou os olhos para a tia, e acabou dando um murro na mesa de jantar. A mesa, que era velha e desconjuntada, esteve quase a se desfazer inteiramente. Clara interveio. -- Titia não fala por mal, Candinho. --Por mal? replicou tia Mônica. Por mal ou por bem, seja o que for, digo que é o melhor que vocês podem fazer. Vocês devem tudo; a carne e o feijão vão faltando. Se não aparecer algum dinheiro, como é que a família há de aumentar? E depois, há tempo; mais tarde, quando o senhor tiver a vida mais segura, os filhos que vierem serão recebidos com o mesmo cuidado que este ou maior . Este será bem criado, sem lhe faltar nada. Pois então a Roda é alguma praia ou monturo? Lá não se mata ninguém, ninguém morre à toa, enquanto que aqui é certo morrer, se viver à míngua. Enfim...
Tia Mônica terminou a frase com um gesto de ombros, deu as costas e foi meter-se na alcova. Tinha já insinuado aquela solução, mas era a primeira vez que o fazia com tal franqueza e calor,-- crueldade, se preferes. Clara estendeu a mão ao marido, como a amparar-lhe o ânimo; Cândido Neves fez uma careta, e chamou maluca à tia, em voz baixa. A ternura dos dous foi interrompida por alguém que batia à porta da rua.
--Quem é? perguntou o marido. --Sou eu.
Era o dono da casa, credor de três meses de aluguel, que vinha em pessoa ameaçar o inquilino. Este quis que ele entrasse.
--Não é preciso... --Faça favor.
O credor entrou e recusou sentar-se, deitou os olhos à mobília para ver se daria algo à penhora; achou que pouco. Vinha receber os aluguéis vencidos, não podia esperar mais; se dentro de cinco dias não fosse pago, pô-lo-ia na rua. Não havia trabalhado para regalo dos outros. Ao vê-lo, ninguém diria que era proprietário; mas a palavra supria o que faltava ao gesto, e o pobre Cândido Neves preferiu calar a retorquir. Fez uma inclinação de promessa e súplica ao mesmo tempo. O dono da casa não cedeu mais.
--Cinco dias ou rua! repetiu, metendo a mão no ferrolho da porta e saindo.
Candinho saiu por outro lado. Nesses lances não chegava nunca ao desespero, contava com algum empréstimo, não sabia como nem onde, mas contava. Demais, recorreu aos anúncios. Achou vários, alguns já velhos, mas em vão os buscava desde muito. Gastou algumas horas sem proveito, e tornou para casa. Ao fim de quatro dias, não achou recursos; lançou mão de empenhos, foi a pessoas amigas do proprietário, não alcançando mais que a ordem de mudança.
A situação era aguda. Não achavam casa, n em contavam com pessoa que lhes emprestasse alguma; era ir para a rua. Não contavam com a tia. Tia Mônica teve arte de alcançar aposento para os três em casa de uma senhora velha e rica, que lhe prometeu emprestar os quartos baixos da casa, ao fundo da cocheira, para os lados de um pátio.
Teve ainda a arte maior de não dizer nada aos dous, para que Cândido Neves, no desespero da crise começasse por enjeitar o filho e acabasse alcançando algum meio seguro e regular de obter dinheiro; emendar a vida, em suma. Ouvia as queixas de Clara, sem as repetir, é certo, mas sem as consolar. No dia em que fossem obrigados a deixar a casa, fá-los-ia espantar com a notícia do obséquio e iriam dormir melhor do que cuidassem.
Assim sucedeu. Postos fora da casa, passaram ao aposento de favor, e dous dias depois nasceu a criança. A alegria do pai foi enorme, e a tristeza também. Tia Mônica insistiu em dar a criança à Roda. "Se você não a quer levar, deixe isso comigo; eu vou à Rua dos Barbonos." Cândido Neves pediu que não, que esperasse, que ele mesmo a levaria.
Notai que era um menino, e que ambos os pais desejavam justamente este sexo. Mal lhe deram algum leite; mas, como chovesse à noite, assentou o pai levá-lo à Roda na noite seguinte.
Naquela reviu todas as suas notas de escravos fugidos . As gratificações pela maior parte eram promessas; algumas traziam a soma escrita e escassa. Uma, porém, subia a cem mil-réis. Tratava-se de uma mulata; vinham indicações de gesto e de vestido.
Cândido Neves andara a pesquisá-la sem melhor fortuna, e abrira mão do negócio; imaginou que algum amante da escrava a houvesse recolhido. Agora, porém, a vista nova da quantia e a necessidade dela animaram Cândido Neves a fazer um grande esforço derradeiro. Saiu de manhã a ver e indagar pela Rua e Largo da Carioca, Rua do Parto e da Ajuda, onde ela parecia andar, segundo o anúncio. Não a achou; apenas um farmacêutico da Rua da Ajuda se lembrava de ter vendido uma onça de qualquer droga, três dias antes, à pessoa que tinha os sinais indicados. Cândido Neves parecia falar como dono da escrava, e agradeceu cortesmente a notícia. Não foi mais feliz com outros fugidos de gratificação incerta ou barata.
Voltou para a triste casa que lhe haviam emprestado. Tia Mônica arranjara de si mesma a dieta para a recente mãe, e tinha já o menino para ser levado à Roda. O pai, não obstante o acordo feito, mal pôde esconder a dor do espetáculo. Não quis comer o que tia Mônica lhe guardara; não tinha fome, disse, e era verdade. Cogitou mil modos de ficar com o filho; nenhum prestava. Não podia esquecer o próprio albergue em que vivia. Consultou a mulher, que se mostrou resignada. Tia Mônica pintara-lhe a criação do menino; seria maior a miséria, podendo suceder que o filho achasse a morte sem recurso. Cândido Neves foi obrigado a cumprir a promessa; pediu à mulher que desse ao filho o resto do leite que ele beberia da mãe. Assim se fez; o pequeno adormeceu, o pai pegou dele, e saiu na direção da Rua dos Barbonos.
Que pensasse mais de uma vez em voltar para casa com ele, é certo; não menos certo é que o agasalhava muito, que o beijava, que cobria o rosto para preservá-lo do sereno. Ao entrar na Rua da Guarda Velha, Cândido Neves começou a afrouxar o p asso. --Hei de entregá-lo o mais tarde que puder, murmurou ele. Mas não sendo a rua infinita ou sequer longa, viria a acabá-la; foi então que lhe ocorreu entrar por um dos becos que ligavam aquela à Rua da Ajuda. Chegou ao fim do beco e, indo a dobrar à direita, na direção do Largo da Ajuda, viu do lado oposto um vulto de mulher; era a mulata fugida.
Não dou aqui a comoção de Cândido Neves por não podê-lo fazer com a intensidade real. Um adjetivo basta; digamos enorme. Descendo a mulher, desceu ele também; a poucos passos estava a farmácia onde obtivera a informação, que referi acima. Entrou, achou o farmacêutico, pediu-lhe a fineza de guardar a criança por um instante; viria buscá-la sem falta.
--Mas...
Cândido Neves não lhe deu tempo de dizer nada; saiu rápido, atravessou a rua, até ao ponto em que pudesse pegar a mulher sem dar alarma. No extremo da rua, quando ela ia a descer a de S. José, Cândido Neves aproximou-se dela. Era a mesma, era a mulata fujona. --Arminda! bradou, conforme a nomeava o anúncio.
Arminda voltou-se sem cuidar malícia. Foi só quando ele, tendo tirado o pedaço de corda da algibeira, pegou dos braços da escrava, que ela compreendeu e quis fugir. Era já impossível. Cândido Neves, com as mãos robustas, atava-lhe os pulsos e dizia que andasse. A escrava quis gritar, parece que chegou a soltar alguma voz mais alta que de costume, mas entendeu logo que ninguém viria libertá-la, ao contrário. Pediu então quea soltasse pelo amor de Deus.
--Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço! -- Siga! repetiu Cândido Neves. --Me solte! --Não quero demoras; siga!
Houve aqui luta, porque a escrava, gemendo, arrastava-se a si e ao filho. Quem passava ou estava à porta de uma loja, compreendia o que era e naturalmente não acudia.
Arminda ia alegando que o senhor era muito mau, e provavelmente a castigaria com açoutes,--cousa que, no estado em que ela estava, seria pior de sentir. Com certeza, ele lhe mandaria dar açoutes.
--Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois? perguntou Cândido Neves.
Não estava em maré de riso, por causa do filho que lá ficara n a farmácia, à espera dele. Também é certo que não costumava dizer grandes cousas. Foi arrastando a escrava pela Rua dos Ourives, em direção à da Alfândega, onde residia o senhor. Na esquina desta a luta cresceu; a escrava pôs os pés à parede, recuou com grande esforço, inutilmente. O que alcançou foi, apesar de ser a casa próxima, gastar mais tempo em lá chegar do que devera. Chegou, enfim, arrastada, desesperada, arquejando. Ainda ali ajoelhou-se, mas em vão. O senhor estava em casa, acudiu ao chamado e ao rumor.
--Aqui está a fujona, disse Cândido Neves. -- É ela mesma. --Meu senhor! --Anda, entra...
Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da escrava abriu a carteira e tirou os cem mil-réis de gratificação. Cândido Neves guardou as duas notas de cinqüenta mil-réis, enquanto o senhor novamente dizia à escrava que entrasse. No chão, onde jazia, levada do medo e da dor, e após algum tempo de luta a escrava abortou.
O fruto de algum tempo entrou sem vida neste mundo, entre os gemidos da mãe e os gestos de desespero do dono. Cândido Neves viu todo esse espetáculo. Não sabia que horas eram. Quaisquer que fossem, urgia correr à Rua da Ajuda, e foi o que ele fez sem querer conhecer as conseqüências do desastre.
Quando lá chegou, viu o farmacêutico sozinho, sem o filho que lhe entregara. Quis esganá-lo. Felizmente, o farmacêutico explicou tudo a tempo; o menino estava lá dentro com a família, e ambos entraram. O pai recebeu o filho com a mesma fúria com que pegara a escrava fujona de há pouco, fúria diversa, naturalmente, fúria de amor.
Agradeceu depressa e mal, e saiu às carreiras, não para a Roda dos enjeitados, mas para a casa de empréstimo com o filho e os cem mil-réis de gratificação. Tia Mônica, ouvida a explicação, perdoou a volta do pequeno, uma vez que trazia os cem mil-réis. Disse, é verdade, algumas palavras duras contra a escrava, por causa do aborto, além da fuga.
Cândido Neves, beijando o filho, entre lágrimas, verdadeiras, abençoava a fuga e não se
lhe dava do aborto.
--Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração.
HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL
Escravidão
Índios X Africanos
- Inadaptação do índio ao trabalho de Engenho;
- Barreira Cultural;
- Doenças trazidas pelos europeus;
- A Igreja não aceitava a escravidão do índio;
- Os africanos eram “culturalmente” mais próximos dos europeus.
“Os africanos sem dúvida não eram mais ‘predispostos’ ao cativeiro do que os índios, portugueses, ingleses, ou qualquer outro povo arrancado de sua terra natal e submetido à vontade alheia, mas as semelhanças de sua herança cultural com as tradições européias valorizavam-nos aos olhos dos europeus”
(Stuart Schwartz)
O Tráfico Negreiro
- Enriquecia a burguesia da metrópole e gerava tributos para o Rei;
- Os traficantes capturavam os negros nas colônias portuguesas na África e depois vendiam-nos para diversos interessados
- Do Banto: “Povoação”
uNúcleos habitacionais e comerciais, além de local de resistência à escravidão
O Quilombo dos Palmares
- Criado no final de 1590 a partir de um pequeno refúgio de escravos localizado na Serra da Barriga, em Alagoas, Palmares se fortificou, chegando a reunir quase 30 mil pessoas. Transformou-se num estado autônomo, resistiu aos ataques holandeses, luso-brasileiros e bandeirantes paulistas, e foi totalmente destruído em 1716.